Actualmente, termos como soft skills e hard skills enchem os textos, livros e artigos sobre… Bom! sobre tudo e mais alguma coisa, da educação ao trabalho, passando pelo desenvolvimento pessoal e pelo bem-estar.
Com o advento da hiperprodutividade, as competências começaram a ganhar força – principalmente, porque o desenvolvimento tecnológico assenta nessa capacidade de resolução de problemas, de executar funções e de avaliar situações.
No entanto, à medida que se iam fazendo avanços tecnológicos, começou-se a perceber que existem vários tipos de competências e que todas elas se conjugam para se conseguir obter um bom resultado. Caiu por terra a ideia de que as pessoas deveriam ser como as máquinas e começou-se a programar as máquinas para serem mais parecidas com as pessoas (ainda há caminho a fazer, mas acho que estamos a começar a perceber uma série de falácias associadas à eficácia e à eficiência que nos afastam dos valores equitativos e igualitários que regem, e bem, a nossa sociedade).
O mesmo processo aconteceu nas empresas, que se viam como equipas cheias de grandes craques, mas que não conseguiam obter os resultados pretendidos, perdendo muitas vezes o “campeonato” para equipas menos qualificadas teoricamente, mas que, de alguma forma, funcionavam e conseguiam encontrar as soluções necessárias.
Na realidade, todos nós conhecemos aquela pessoa que se dá bem com toda a gente, que todos adoram e que parece encaixar em todos os ambientes – e quando nos pedem para explicarmos o que é que essa pessoa tem de especial, inevitavelmente dizemos coisas como: é uma pessoa simpática, é fácil de falar com ela sobre tudo, é inteligente, atenciosa, calma, assertiva, alegre, de bem com a vida, etc. Esta percepção parece estender-se às relações pessoais, escolares e profissionais dessa pessoa, fazendo com que tudo pareça mais fácil – quer as aprendizagens quer as progressões.
Pois bem, esta capacidade que reconhecemos nessas pessoas é fruto da conjugação das suas hard skills com as suas soft skills, ou seja, das suas competências técnicas com as suas competências sócio-comportamentais, da sua inteligência intelectual com a sua inteligência emocional. Esta ideia que temos de que quer as aprendizagens quer as progressões parecem mais fáceis para estas pessoas, torna evidente a relação que existe entre estas competências.
Da teoria à prática
Considerando o que dissemos acima, é fácil de perceber que para cada hard skill, podem existir várias soft skills que sirvam de base ao seu desenvolvimento. Por exemplo, uma boa capacidade de comunicação, permite-te ouvir melhor e fazer perguntas quando não percebes as coisas ou precisas de esclarecimentos (o que é bom para as relações, sejam elas pessoais, escolares ou profissionais), o que te ajuda a assimilar todas as informações que te ajudarão a resolver problemas futuros (particulares, académicos ou laborais) e a fazer uso dessas informações para, combinando-as, chegares a soluções criativas (a nível individual ou de grupo), que também poderão potenciar a tua capacidade de negociação e de empatia (ouvindo os outros, é mais fácil chegar a consensos).
Senão, vejamos: quando uma empresa tenta contratar um programador, irá ter em conta os seus conhecimentos de programação em Java (hard skill), mas o candidato terá de ir a uma entrevista e ser capaz de (se) comunicar. Além disso, como irá ser integrado numa equipa, terá de possuir uma boa capacidade relacional e de comunicação (soft skills) porque terá de conseguir falar com os colegas e de trabalhar em equipa.
Será tão prejudicial para a equipa caso seja contratado alguém sem as hard skills necessárias como alguém sem as soft skills que permitam tem um bom clima organizacional.
E já que falamos no processo de selecção de um novo colaborador…
Inicialmente, as empresas começam por fazer um mapeamento das hard skills e das soft skills necessárias para a função, levando em consideração tanto as tarefas a executar quanto o nível de interacção com colegas ou clientes, assim como os valores e a cultura organizacional.
De seguida, traçam o perfil ideal para cada cargo e elaboram a descrição da vaga, na qual são normalmente mencionadas as hard skills indispensáveis para a execução das tarefas associadas à função em questão.
Em alguns casos, existe uma fase de verificação das competências indicadas nas candidaturas, sendo que no caso das hard skills podem ser solicitados os certificados oficiais (escolares ou de formação em instituições reconhecidas e fiáveis) ou ser feita uma avaliação através da realização de provas e testes de conhecimentos, os quais podem ser mais práticos ou mais teóricos, dependendo do perfil desejado. Já no caso das soft skills, estas podem ser apuradas por meio de testes psicológicos ou testes comportamentais, assim como podem ser observadas por meio de uma entrevista presencial, telefónica ou online ou por dinâmicas de grupo, em que os vários candidatos simulam situações, tanto do dia-a-dia empresarial como situações fictícias.
Além desta fase de testagem, a capacidade de resistência ao stress e de persuasão de que se é a pessoa indicada para aquela vaga, por exemplo, podem ainda ser testadas numa entrevista de grupo – em que o candidato é entrevistado frente a e por vários elementos seniores da empresa.
Depois disto e de se ter sido aceite para o cargo, haverá ainda o período experimental – fase inicial do contrato, definida por lei, em que ambas as partes avaliam o seu interesse em manter a relação contratual. Esta é, pois, mais uma etapa de verificação das competências técnicas e sócio-comportamentais da pessoa escolhida, analisando-se o seu entrosamento com a equipa e no projecto.
Não será maravilhoso se conseguirmos ser aquela pessoa que “todos nós conhecemos aquela pessoa que se dá bem com toda a gente, que todos adoram e que parece encaixar em todos os ambientes”?
Não são umas ou as outras, são ambas!
É isso mesmo, as soft skills complementam as hard skills, devendo constituir um todo que te ajudará a descobrires o teu Propósito e a perceberes de que competências precisarás agora e no futuro.
Rapidamente irás perceber que terás de desenvolver as tuas competências continuamente. E, embora, algumas competências te sejam inatas, e por isso aparentemente mais fáceis de desenvolver, outras terás mesmo de aprimorar ou descobrir – através de um processo de autoconhecimento e de auto-responsabilização.
Basta pensares que precisas das competências da escola primária para passares para o ensino básico e destas para seguires para o secundário e por aí adiante; que também precisarás de um leque de competências para escreveres um currículo, criares um plano de negócios ou fazeres uma apresentação dos teus serviços de empreendedor, para ires a uma entrevista ou reunião de prospecção e para efectivamente executares as tarefas que te levarão até ao teu Propósito.
Como é que posso desenvolver as minhas competências?
Com trabalho! Com trabalho que só tu podes realizar.
Deixo-te alguns exemplos de competências que poderás tentar verificar se possuis ou se precisas para atingires os teus objectivos:
Soft skills
- Comunicação
- Resolução de problemas
- Ética de trabalho
- Negociação e persuasão
- Empatia
- Espírito de equipa
- Confiança
- Criatividade
- Positivismo
- Flexibilidade
- Organização
- Proactividade
- Resiliência
- Liderança
- Capacidade de adaptação
Hard skills
- Conhecimentos informáticos e de programação
- Conhecimentos linguísticos
- Conhecimentos de design
- Conhecimentos contabilísticos
- Conhecimentos médicos e precisão cirúrgica
- Uso de máquinas, equipamentos e/ou programas
- Domínio de PHP, de SPSS, de Photoshop avançado e/ou de Excel avançado
- Certificação Cisco e/ou certificação SAP
- Conhecimentos de probabilidade e estatística
- Mestrado em ensino e/ou CAP
- Gestão de projectos
- Gestão de pessoas
- Conhecimentos bancários
- Conhecimentos jurídicos
- Gestão de empresas
Se a maioria das competências técnicas são possíveis de adquirir através de cursos, formações, workshops, palestras, livros, etc., já as competências sociais têm de ser constantemente trabalhadas em paralelo com essas aprendizagens.
No entanto, ambas dependem da tua capacidade para:
Aprenderes – mantém a mente aberta e preparada para aprender, praticando a escuta activa com as pessoas à tua volta.
Parares e reflectires – é importante ter momentos de auto-reflexão e de auto-avaliação, em que percebemos quais são as nossas facilidades e quais são as nossas dificuldades ou angústias.
Praticares – a maior parte das coisas que fazemos precisam de prática para serem aperfeiçoadas, pois é através de tentativa-erro que percebemos como optimizar as situações e as nossas acções.
Dares e receberes feedback – se feito de uma forma saudável e não-competitiva, é uma boa fonte de dicas e de conselhos. De igual modo, ao reflectirmos sobre o que os outros fizeram bem e fizeram mal, podemos perceber em nós próprios o que é que precisamos de melhorar.
E, se precisares de ajuda para destrinçares em que é que te deves focar, sabes que podes contar comigo.
ps. E porque é importante alinhares as competências com o mercado de trabalho – apesar de não te querermos condicionar – podes ver quais são as 15 competências que irão ser mais procuradas no mercado de trabalho até 2025, de acordo com o relatório "O Futuro das Profissões" publicado pelo Fórum Económico Mundial em Outubro de 2020.
(este artigo foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico)