Ao longo das publicações no blogue referimos algumas vezes «as ferramentas» e certamente estarás a pensar: Mas o que é que são essas tais ferramentas? Para que é que servem? Como é que funcionam?
E se te disser que existem milhares de “ferramentas de Coaching” e que podemos não usar nenhuma delas nas nossas sessões?
O objectivo das ferramentas é ajudar-te a desbloqueares situações, a desenvolveres competências e a obteres uma melhor consciencialização de ti mesmo e do mundo que te rodeia.
No entanto, e depois de andar às voltas com este tema, achei que, mais importante do que te apresentar uma série de ferramentas-padrão que podemos ou não utilizar nas tuas sessões, é perceberes quando é que estas podem fazer sentido e como é que o Coach as poderá utilizar para te ajudar a atingires o teu Propósito.
Na verdade, se olharmos para as ferramentas – que podes encontrar online e em livros, ou até mesmo neste site, onde podes descarregar os Objectivos SMART (que visa ajudar-te a criares metas bem estabelecidas, a organizares as tuas prioridades e a diminuíres o teu stress diário), a Tríade do tempo (que te permite perceberes quais as tarefas que te aproximam dos teus objectivos e quais as tarefas que podem ser dispensadas) e a Roda da vida (que possibilita que te foques nas áreas que precisam de ser trabalhadas na tua vida) –, estas podem parecer um pouco genéricas (e são!) se não as souberes utilizar ou se não forem adequadas para ti.
Quantos de nós já andámos à procura de formas de sermos mais produtivos e nos cruzámos com a Matriz de Eisenhower, também conhecida como Lista de prioridades – abaixo com exemplo de preenchimento – e percebemos que esta não resolve o nosso problema?
Fonte: https://mlsoluciona.com/pt/ganhar-tempo-com-a-matriz-de-eisenhower/
Quantas vezes ouvimos para fazermos listas e riscarmos as tarefas concluídas para ficarmos com uma sensação de completude e de que atingimos um objectivo? E quantas outras ouvimos que não devemos riscar as tarefas porque riscar é negativo e é melhor colocar um visto de sucesso que te dá uma sensação mais positiva face às tarefas? E quantas vezes fizeste isso tudo e continuaste perdido, perdido nas tuas tarefas e listas?
E porque é que isso aconteceu? Porque as ferramentas não estavam adaptadas a ti e ao que tu realmente precisas: não tinham em conta o tipo de tarefas que tens, o tipo de solicitações que podes ter, a forma como organizas o teu dia, a duração ou a volatilidade das tarefas, as tuas próprias capacidades de organização, de comunicação, de gestão do tempo, de dizer que “não”, de saber o que é realmente urgente ou importante, etc. Ou seja, no fundo as ferramentas não funcionaram porque não são aquilo que precisas no momento que precisas.
Pois é!
Por mais que tentemos usar todas as ferramentas alguma vez criadas para auxiliar o processo de Coaching, se estas não forem AS ferramentas para ti, de nada servirão.
Então, deixa-me partilhar um segredo contigo – não é segredo, mas… – a principal ferramenta de Coaching que se pode usar é o Método socrático.
O método quê?
O Método socrático (de Sócrates, o filósofo) pretende, através do diálogo, ajudar-te a potenciares o processo de reflexão e de descoberta dos teus valores pessoais, assim como te permite encontrares dentro de ti as respostas às tuas questões e dificuldades.
É aqui que entra o Coach, fazendo as perguntas – perguntas poderosas – que têm o potencial de te ajudar a revelares-te a ti mesmo, a exprimires os teus valores, os teus pré-conceitos, a descobrires quais são os bloqueios, o teu propósito, as competências e forças que possuis e que capacidades tens de desenvolver, permitindo-te teres uma maior compreensão sobre o que sentes relativamente às situações e como reages às mesmas.
Estas perguntas são poderosas porque “puxam por ti” no momento certo, porque te dão o empurrãozinho de que precisas para aquela dificuldade específica, porque são adaptadas a ti e à forma como te exprimes e como vês e compreendes o mundo.
No entanto, apesar de poderosas, são perguntas simples – o que pode ser enganador, porque é importante que respondas com verdade e clareza, o que, por vezes, só conseguirás fazer se tiveres alguém que te desafie a explorar verdadeiramente essas temáticas e esses sentimentos.
É por isso, que mais importante do que um qualquer conjunto de perguntas poderosas que possam ser encontradas em livros e na Internet, é estas perguntas serem adaptadas a ti e serem feitas no momento oportuno.
Deixo aqui alguns exemplos de perguntas poderosas para pensares sobre o assunto:
Que ferramentas usas, então?
Além do Método socrático gosto muito de co-construir ferramentas com os meus Coachees ferramentas totalmente personalizadas, seja durante a própria sessão, em conjunto, seja fora da sessão, pelo Coachee.
Eu sinto essa necessidade porque acho que uma sessão só é verdadeiramente personalizada se for realmente adaptada a ti e a verdade é que não existem ferramentas assim tão específicas, ferramentas que reflictam exactamente aquilo que tu precisas, porque tu tens necessidades muito próprias, que podem depender da tua personalidade, do teu propósito, dos teus sabotadores, da fase em que estás, etc. Além disso, acho que é sempre melhor usares as ferramentas que tu próprio criares porque durante a criação da tua ferramenta irás estar a realizar o teu próprio processo de autoconsciencialização e de autoconhecimento.
Vou dar mais um exemplo do que pode ser considerado uma ferramenta, mas pode não estar adaptado a ti.
Saber dizer “não”
Em todo o lado poderás encontrar dicas de como “dizer que não” e seres mais feliz, mais produtivo, mais focado – como as da imagem abaixo – e, mais uma vez, estas são sugestões válidas. Contudo, são também sugestões genéricas, porque não te permitem compreenderes os diversos tipos de solicitações que tens e como deves responder às mesmas tendo em conta os teus próprios critérios, nem te permite criares os teus diversos níveis de resposta (quando e como é que seria aceitável e possível executar essas actividades).
Pegando na primeira pergunta desta lista de verificação: não estarás a reagir automaticamente às coisas ao responderes a uma lista de verificação sem aprofundares a tua situação em específico e de que forma te sentirias melhor perante as situações em que agora tens dificuldades em dizer “não”? – e sabes que situações são essas?
Não digo que esta lista não ajude, mas ao ser tão abrangente não te leva a desenvolveres as competências paralelas de que precisas para começares a dizer “não” de forma consciente.
Por isso, utilizando as perguntas poderosas, iria ajudar-te a analisares a tua situação actual e a veres em que situações é que tens dificuldade em dizer “não” e achas que deverias dizer “não”.
O que eu quero dizer, é que embora as ferramentas tenham um propósito e estejam disponíveis para as usarmos – e também as usaremos sempre que faça sentido no teu processo de autoconhecimento –, a verdade é que todas as pessoas são diferentes e todos os processos que fazemos são personalizados.
Isto muitas vezes quer dizer que terás de criar (ou co-criar) as ferramentas que dêem resposta a situações e a sentimentos que só tu sabes como surgem, como se desenvolvem e como desejas que se solucionem, porque aquilo que queremos que faças nas tuas sessões de Coaching é o teu caminho, o teu objectivo, as tuas resistências e (pré-)conceitos sobre ti mesmo e sobre o mundo que terás de ultrapassar para atingires o teu Propósito.
Pronto para colocares mãos à obra?
(este artigo foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico)