Tempos de resiliência

2 de Fevereiro de 2021

Estamos mais uma vez fechados em casa, mas não podemos ficar fechados sobre nós mesmos nem nos podemos vergar perante as coisas que parecem inevitáveis e irremediáveis.

Mais do que nunca, e precisamente porque estamos fechados, devemos abrir-nos ao que nos rodeia, aceitando as coisas que não podemos mudar (como a COVID e a necessidade de nos confinarmos e de trabalharmos a partir de casa e de termos os miúdos em ensino à distância), tendo coragem para mudarmos as coisas que podemos mudar (se não podemos sair, se não podemos estar com todas as que pessoas que gostaríamos, se está tudo parado, então, cabe-nos a nós encontrar o que podemos fazer durante este tempo para nós mesmos e para os outros – que, como poderás saber, é algo que nos devolve sempre tudo aquilo que damos; no fundo, ao fazermos pelos outros estamos a fazer também por nós próprios) e agradecendo a sabedoria para sabermos distinguir umas coisas das outras (estou a citar a Oração da Serenidade, que adoro precisamente por me ajudar a colocar as coisas em perspectiva e por me ajudar a avaliar-me a mim mesma e ao mundo que me rodeia, sem me deixar cair na ideia de que «está tudo contra mim», de que «nada corre bem», de que «logo agora que eu ia fazer isto é que acontece uma coisa destas», enfim, sem me deixar ficar presa a todas as crenças limitadoras que me perseguem e me limitam – sim, porque eu também as tenho).

Serenidade, Coragem e Sabedoria

Claro que, após quase um ano de «confinamento» social, com todas as consequências económicas, familiares e laborais que lhe estão associadas, é impossível não sermos, de vezes em quando, assolados por estados de irritabilidade, inquietação, solidão ou frustração nos diferentes aspectos da nossa vida.

Na verdade, é completamente normal sentirmo-nos inseguros quando encontramos situações que não dominamos, ficarmos inquietos quando não sabemos o que virá a seguir, sofrermos de solidão quando não podemos socializar como queríamos, ficarmos frustrados quando nos sentimos presos num círculo vicioso ou irritados quando as coisas parecem fugirmos das mãos.

Todas estas emoções

Estamos, mais vez, numa situação de mudança e de adaptação – duas coisas de que gostamos muito, não é verdade? Duas coisas que fazemos de tudo para não termos de lidar com elas e que, agora, se nos impõem sem termos hipótese de nos desviarmos delas ou de as recusarmos – e isso pode ser uma coisa boa (eu sei que parece mal estar a dizer que pode haver alguma coisa boa no meio de tanto infortúnio, mas a verdade é que a capacidade de aprendermos com tudo o que nos rodeia tem sempre algo de positivo).

É inegável que quando as coisas mudam, somos inundados por emoções que muitas vezes não conseguimos compreender e que podem moldar os nossos estados de humor de forma positiva ou negativa, expressando-se em sentimentos que vão da tristeza à revolta, passando pelo medo ou pela resistência, mas também pelo entusiasmo, pela aceitação, pela motivação ou pelo vigor. E todas estas emoções e sentimentos são válidos, os agradáveis e os desagradáveis, e devemos dar-nos a nós próprios a oportunidade de os sentirmos. Contudo, não nos devemos deixar dominar por eles sempre que estes não forem realistas. É tão mau ficarmos presos a um sentimento de derrota como acharmos que tudo é uma vitória pelo simples facto de termos comparecido.

Nesta fase tumultuosa, temos mais do que saber «Porque» fazemos as coisas, temos de saber «Para que» é que fazemos as coisas e, com os olhos postos nesse propósito, temos de encontrar aquilo que precisamos para «não desviarmos os olhos da bola».

Na sociedade actual, temos a tendência para dar um cunho negativo às emoções, contudo, estas são a resposta do nosso organismo às «agressões» externas e, tal como a sede ou a fome, são um mecanismo de sobrevivência inato. Por isso, é importante sabermos reconhecer essas emoções e conseguirmos exteriorizar esses sentimentos na forma de comportamentos adequados às situações que as espoletam, pois é na decifração destas emoções e no seu discernimento consciente que se fala de Inteligência emocional.

O que é a Inteligência emocional?

Inteligência emocional é, segundo Salovey e Mayer, "a capacidade de percebermos com precisão as emoções, assim como de as avaliar e expressar; a capacidade de acedermos e/ou gerirmos os nossos sentimentos quando estes facilitam o raciocínio; a capacidade de compreendermos as nossas emoções, assim como as dos outros; e a capacidade de regularmos as emoções para promovermos o crescimento emocional e intelectual".

Muitas vezes, o caminho é feito ao contrário, começamos pelos nossos comportamentos (normalmente os indesejados) e vamos tentar perceber que sentimento espoleta esses comportamentos com o objectivo de o controlarmos. No entanto, quando não temos hipótese de lhe fugir, temos de olhar para as emoções e/ou situações que desencadeiam os sentimentos e posterior acção. Ao percebermos toda a cadeia, conseguimos gerir melhor as nossas respostas e, ao gerirmos melhor as nossas respostas, conseguimos dedicarmo-nos àquilo que é realmente relevante.

Aptidões socio-emocionais (soft skills)

Pois bem, é em situações de constante adaptação que a Inteligência emocional e as aptidões socio-emocionais se tornam ainda mais importantes porque precisamos de conhecer, reconhecer e controlar os aspectos emocionais que envolvem a realização de actividades e as tarefas da nossa vida diária profissional e pessoal para tirarmos da vida o melhor partido.

Na publicação anterior falei-vos de como se valoriza cada vez mais as competências socio-emocionais, as chamadas soft skills, no mundo profissional. Infelizmente, ainda temos um longo caminho a percorrer neste sentido na parte educativa, em que se continua a privilegiar a repetição de comportamentos e a memorização de informação à capacidade de utilizar os conhecimentos adquiridos e de inferir sobre eles. Estas competências encontram-se relacionadas com o comportamento humano e estão associadas ao saber-ser e ao saber-estar e são impactantes na nossa vida profissional e pessoal porque são nos ajudam a direccionar a nossa energia e atenção para as coisas que realmente interessam.

Daniel Goleman, um dos nomes mais importante nesta área, desenvolveu um modelo baseado no desempenho para avaliar os níveis de inteligência emocional das pessoas e que consiste em cinco componentes:

  1. Autoconsciência – capacidade de identificarmos as nossas próprias emoções
  2. Autorregulação – capacidade de lidarmos com as nossas próprias emoções
  3. Automotivação – capacidade de nos motivarmos e de nos mantermos motivados
  4. Empatia – capacidade de vermos as situações pela perspectiva dos outros
  5. Competências sociais – ter "cordialidade com um objectivo", ou seja, tratar todos de forma educada e com respeito, mas também para benefício pessoal e organizacional

Se é verdade que umas são mais naturais para nós do que outras, também é verdade que podemos desenvolver a nossa inteligência emocional, o que nos ajuda a termos uma maior noção sobre nós mesmos e sobre o mundo que nos rodeia, permitindo-lhe lidar melhor com as situações que a vida coloca no nosso caminho.

Como é que podes começar a desenvolver a tua Inteligência emocional?

Antes de tudo, tens de reconhecer que és feito de emoções, que elas são naturais e que não são o vilão da história.

Depois, sabendo isso, tens de saber listar as emoções, dar-lhes nomes, expressões faciais, sensações físicas.

E assim que souberes com o que estás a lidar, poderás começar a procurar pistas destas «coisas estranhas» em ti mesmo e nos outros.

Deixo-te 5 ideias de como poderás começar a estar mais atento, mais tranquilo e mais positivo quanto aos desafios que a pandemia (e o futuro) ainda terá para ti:

  1. Observa e analisa o teu comportamento – quanto mais consciência tiveres da forma como te comportas, mais fácil será mudares aquilo de que menos gostas: bateste com a porta – Porquê? Para quê? O que te fez sentir depois?
  2. Aprende a trabalhar as emoções (agradáveis e desagradáveis) – ao conheceres e conseguires descrever as tuas próprias emoções e as dos outros, conseguirás aprender estratégias para controlares as tuas emoções negativas e para gerares emoções positivas, interiorizando os benefícios que retiras das emoções positivas: se ao levantares a voz, a situação piorou – Porque é que o fizeste? O que pretendias obter quando o fizeste? Como é que reagirias se fosse ao contrário? Como é que gostavas que reagissem contigo para não te sentires mal?
  3. Aprende a lidar com a pressão e desenvolve a autoconfiança – pensa antes de agires, respira antes de responderes, tal irá ajudar-te a evitar que tenhas atitudes prejudiciais, para ti e para os outros. Ao reconheceres as coisas em que és bom e porquê, assim como aquelas em que podes melhorar, sentir-te-ás mais seguro e isso irá ajudar-te a ser menos reactivo nas situações de stress: respondeste instintivamente e isso «gerou uma tempestade num copo d’água» – ao analisares a situação a frio, o que farias de forma diferente? Conseguirias «esfriar a cabeça» antes de responderes, como? De que qualidade tua poderias ter feito uso para suavizar a situação e gerar empatia?
  4. Desenvolve a empatia – ouve mais do que falas, assim, será mais fácil perceberes os sentimentos dos outros, o que te irá permitir agir de uma forma mais consciente para com os outros. O famoso, «não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» com vitaminas – somos todos diferentes, por isso, importa não só o que nos deixa sensações negativas, mas conseguirmos reconhecer nos outros os sinais dessas mesmas sensações: entregaste a tua parte do trabalho no prazo que tinham dado, mas deixaste tudo para a última e sabes que o teu colega não vai ter tempo de ver tudo com atenção. Como é que te sentirias se fosses tu o responsável por entregar algo à pressa? Como é que ele reagiu a essa situação? De que forma é que podes fazer o teu trabalho e deixar tempo para que o teu colega faça o dele bem?
  5. Coloca em prática a resiliência – o importante é não desistir. É usarmos a nossa criatividade para pensarmos em formas diferentes de fazermos a mesma coisa, de aprendermos com os nossos erros e com os sucessos dos outros: não consegues estabelecer rotinas estando em casa e isso está a prejudicar os teus objectivos. O que é que fazias antes e não consegues fazer agora? Como é que conseguirias imitar esses comportamentos na situação actual? De que outra forma é que conseguirias concentrares-te e focares-te no que precisas de fazer? Como é que os outros o estão a fazer? – faz, persiste, insiste, tenta e não desistas. Tu consegues!

Ao termos consciência de que as emoções catapultam a inteligência prática, conseguimos fazer mais e sermos mais felizes.

E já sabes, se precisares de ajuda, estou aqui para ti.

 

(este artigo foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico)

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