Violência psicológica, auto‑estima e autoconfiança

21 de Fevereiro de 2022

Nas últimas semanas muito se tem falado, infelizmente, de violência psicológica, de como é difícil perceber se estamos em algum dos lados da barricada, como evitar o fenómeno, como ajuda quem sofre, etc.

Não me vou alongar sobre esse assunto, não tenho competências profissionais para tal e, por isso, deixo esse trabalho para os psicólogos:

«Há muitas formas de exercer violência. Por exemplo, tentar isolar a vítima dos amigos e família, (tentativas de) afastá-la do emprego, vigilância constante, imposição de regras estritas e pormenorizadas, limitações à privacidade, restrição do acesso a alimentos, roupas ou partes da habitação. A estas formas de violência chamamos violência emocional e psicológica.

A violência emocional e psicológica é mais prevalente do que a violência física!

Qualquer pessoa pode ser vítima de violência emocional e psicológica, independentemente da sua idade, género ou profissão. Crianças, jovens, adultos e idosos, rapazes e raparigas, homens e mulheres podem ser vítimas.»

Mas gostava de falar de auto‑estima e de autoconfiança:

A «auto‑estima está relacionada com o SER, com o que somos, com a relação que temos connosco. A auto‑estima está para o SER como a autoconfiança está para o FAZER. Nós precisamos de nos sentir confiantes para agir. […] E a auto‑estima vem de nós, não é? Vem desse nutrir, desse trabalho interno, desse tempo para a auto‑reflexão e para o aprofundamento que cada vez nos dão menos.», em O Coaching Não Faz Milagres. Tu é Que Fazes!, pág. 153 (sim, o meu livro – desculpem, mas sou capaz de recorrer a ele com alguma frequência… shame on me!)

Estas são duas das questões subjacentes mais comuns nos meus processos de coaching. Porquê? Porque muitas vezes tanto a auto‑estima quanto a autoconfiança encontram-se minadas devido a «micro-agressões», como a comparação constante entre irmãos, amigos, colegas, mentores, ídolos, etc. (isto quando não são alvo de macro-agressões, constituindo-se como crime e carecendo de tratamento mais aprofundado ou multidisciplinar, pertencendo mais à esfera da psicologia e da psiquiatria – por exemplo, situações de bullying, de mobbing que podem levar a situações de burnout, entre outras).

As «micro-agressões» de que te falo são por norma «sofridas» ao longo da vida (com boa ou má intenção por parte dos intervenientes) e, muitas vezes, nós acabamos por adoptar estas afirmações e expectativas para nós mesmos, como características pessoais, tornando-as crenças limitadoras – eu sei! Estou sempre a falar delas, mas só o faço porque são, de facto, mesmo muito limitadoras e, por isso, temos de nos livrar delas:

  • «estás sempre a fazer asneira» – todos cometemos erros e devemos esforçar-nos por aprendermos com eles;
  • «não consegues fazer isso/vais falhar» – se achas que podes ter dificuldades, cria um plano – não será infalível, nenhum é, mas ajudar-te-á a ganhares confiança a cada etapa que fores ultrapassando;
  • «não sabes falar com as pessoas, és demasiado sensível/bruto/ desorganizado/organizadinho/pouco empenhado/esforçaste de mais/pouco inteligente/demasiado complicado, etc.» – e se te disser que o outro problema mais comum dos meus coachees é a comunicação? Não estás sozinho e isso resolve-se;
  • «tu mereces isto» [coisas más que acontecem ou que outros nos fazem] – ninguém merece que lhe aconteçam coisas más e todos nós temos momentos bons e menos bons, e alguns são mesmo maus, só temos de aprender a distinguir entre aqueles que dependem de nós, aqueles que são acções dos outros e aqueles que não nos fazem bem, logo, não nos fazem falta;
  • «a culpa é tua» – e até pode ser, mas mais importante do que apontar o dedo é analisar as situações e aprender com elas o que fazer, o que não fazer, o que ainda temos de confirmar em que categoria se insere;
  • «eu sei que tu tentas, mas nunca vais conseguir porque não és X» – tenta livrar-te das comparações negativas, não te servem para nada e não te dão o que as comparações te deveriam dar: um objectivo a alcançar;
  • «toda a gente sabe que és uma fraude» – antes de dares gás às tuas «derrotas», tens de celebrar as tuas vitórias, se não o fizeres, o teu cérebro não as irá reconhecer como tal e nós precisamos que o cérebro seja nosso aliado nesta batalha contra o nosso crítico interno…

E o que é isso do «crítico interno» e como é que o mudo?

O crítico interno é aquela voz que soa na nossa cabeça e que, na sua vertente negativa, tem um comportamento crítico, destrutivo, rígido e opressivo levando a condutas de auto-sabotagem (ou, em casos graves, condutas autodestrutivas) – na sua vertente positiva serve de alerta para perigos e situações em que anteriormente já nos correram mal, porque é bom fazer-se uma auto-avaliação e uma autocrítica desde que de forma equilibrada que nos ajude a melhorar o nosso desempenho, a aumentar a nossa produtividade e a sermos mais felizes e realizados.

No fundo, o crítico interno são aqueles pensamentos que se vão formando ao longo da nossa vida, com base nas nossas experiências, directas ou indirectas, e que nos geram receios, sensação de impotência, de incapacidade ou de fracasso e sentimentos de culpa, raiva e frustração.

Estes pensamentos tendem a surgir de forma espontânea, sendo os grandes responsáveis por não fazermos aquilo que devíamos ou podíamos fazer para «melhorarmos» a nossa situação.

É o crítico interno um dos grandes responsáveis pelo medo da mudança ou de experimentarmos coisas novas, influenciando grandemente as nossas emoções e decisões.

Para ficarmos mais atentos à negatividade que o crítico interno nos pode trazer, temos de prestar atenção ao que ele nos diz – ele, o crítico interno, não somos nós e, por isso, temos de arranjar ferramentas para nos protegermos dele (como faríamos se fosse um crítico externo, distanciando-nos dele e da sua influência).

É, pois, preciso identificar esse crítico, dar-lhe forma, corpo, voz – um nome, se quiseres.

Ao fazermos isso, ao materializarmos essa voz, conseguimos não só identificar melhor o nosso crítico interno, como identificar fontes externas que o alimentam.

Importa então saber quando é que ele aparece – testes, entrevistas de emprego, decisões empresariais, mudanças de etapa, etc. –, o que é que ele me faz sentir – ansiedade, tristeza, apreensão, como se estivessem a ralhar comigo, como se estivesse a falhar, entre outros –, que palavras usa – não consigo… , não posso… , enho medo… , não é para mim… , não vai resultar… (já viram como o crítico usa imenso a palavra «não»?), mas também, tenho de controlar tudo… , tenho de fazer mais… , tenho de ser mais… (aquela ideia de que ainda não somos «a melhor versão de nós mesmos», que essa versão é maior, é melhor, é mais e mais e mais e mais; mas «Mais do que sermos a melhor versão de nós mesmos, devemos descobrir quem somos. […] Como chegaremos a essa melhor versão de nós mesmos, seja ela qual for, se não soubermos quem somos?» – e acrescentaria, se não sabemos identificar o que nos faz bem e o que nos faz mal).

Aprender a identificar e, consequentemente, descobrir como é que podemos mudar essa autocrítica é um passo decisivo para conseguirmos «calar» o nosso crítico interno quando ele quiser emergir.

Agora que já sabemos quem ele é, temos de transformar as suas frases e expressões negativas em frases e expressões positivas – sim, o teu cérebro aprende essas frases positivas com o tempo e com a repetição, da mesma forma que aprendeu as frases negativas com o tempo e com a repetição. Claro, podes dizer «Vou ser o melhor», mas resulta muito melhor se personalizares, se incluíres competências e se falares no presente: «Eu sou capaz de dar aquela entrevista».

Seja a vozinha na nossa cabeça, sejam pessoas negativas na nossa vida, o importante é defendermo-nos das suas agressões, distanciarmo-nos da sua influência e acreditarmos que merecemos melhor.

Porque um crítico interno saudável permite-nos evoluir e sermos felizes.

Se quiseres falar, já sabes, encontras-me aqui.

 

(este artigo foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico)

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